O juiz Sérgio Moro afirmou nesta segunda-feira (27) que sofreu “ataques sujos” durante a condução dos processos da Lava-Jato. Durante uma entrevista pública promovida pela revista “Veja”, o magistrado não citou nomes nem exemplos desses ataques, que mencionou ao ser indagado sobre o “preço mais alto que pagou por conduzir a operação”.
“Um lado negativo que, particularmente, eu não esperava foram alguns ataques sujos por conta provavelmente desses processos atuais envolverem crimes praticados por pessoas na política”, disse Moro.
Na pergunta, a entrevistadora citou os ataques contra a mulher e os amigos do juiz. Para Moro, os ataques fazem parte de estratégia dos investigados de confundir a opinião pública.
“Existe essa tentativa de diversionismo. Em vez de discutirem as responsabilidades, atacam as pessoas responsáveis pelo processo, pela acusação, pelo julgamento. Mas eu estou absolutamente tranquilo com as coisas que eu fiz.”
O magistrado descartou, porém, tomar alguma atitude contra os que o atacam:
“Não se deve atirar uma pedra em todo cachorro que ladra. Não vou ficar me incomodado com mentiras e vou continuar fazendo o meu trabalho.” Ainda mesma resposta, Moro se queixou do fato de ser obrigado a andar com segurança porque perde uma privacidade, mas tentou se mostrar conformado com a situação: “Quando existe uma situação concreta de risco, tem que tomar medidas de segurança”.
Ao longo da entrevista, Moro defendeu a divulgação da conversa telefônica entre a então presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, em março do ano passado, e disse que o diálogo tem trechos “não republicanos”. Na conversa gravada com autorização do magistrado, Dilma diz a Lula que mandará um assessor entregar-lhe o seu termo de posse como ministro da Casa Civil, que só deveria ser usado “em caso de necessidade”. A nomeação garantiria ao ex-presidente o foro privilegiado e o tiraria do alcance de Moro.
“Na minha opinião, eu fiz exatamente o que a lei exigia e o que era necessário. Acho que o conteúdo daquele diálogo deveria vir a público porque não era exatamente conversas republicanas. O problema não foi tanto a divulgação, mas o conteúdo do diálogo”, afirmou.
A divulgação da conversa entre os petistas foi um dos fatos mais polêmicos da Lava-Jato. Alguns juristas defendiam que Moro, por ser um juiz de primeira instância, não teria poder para divulgar conversas de um presidente da República. O grampo autorizado pelo magistrado não era sobre o telefone de Dilma, e sim do utilizado por Lula.
“Essas coisas têm que vir a público. Os governantes têm responsabilidade sobre os governados e devem agir com absoluta transparência”, argumentou Moro, que novamente se recusou a responder se determinará a prisão de Lula.
Em outro trecho, o magistrado disse que a sua “maior frustração” em quase quatro anos à frente da Lava-Jato foi ver que os políticos não tomaram nenhuma medida para ajudar no combate à corrupção.
“Eu tinha uma expectativa de que, diante da magnitude desse problema, o tratamento não ficasse restrito às cortes de Justiça. Para superação desse nível de corrupção, seriam necessárias reformas por parte das nossas lideranças políticas. Deveriam vir da nossa liderança política iniciativas para eliminação do foro privilegiado e do loteamento de cargos públicos. Mas o que se verifica é quase uma completa omissão em promover mudanças dessa espécie”.
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