
A política em Eunápolis, no sul da Bahia, sempre foi um palco de embates entre o Legislativo e o Executivo, embora a Câmara Municipal, nos últimos anos, tenha mantido uma maioria alinhada aos prefeitos em exercício, garantindo governabilidade por meio de acordos e coalizões. Esses confrontos, muitas vezes acalorados, deixam marcas na história local, registradas em debates públicos que ecoam para as futuras gerações. No passado, figuras políticas da oposição usavam a tribuna com posturas extremamente combativas, classificando o atual gestor, que já ocupou a prefeitura em três mandatos anteriores, como criminoso, com denúncias diretas e falas contundentes, como “se instalou uma quadrilha em Eunápolis”, “a Polícia Federal vai bater na porta” e “os Fraternos não têm limites”. Essas expressões, amparadas pela imunidade parlamentar, prevista no artigo 29, inciso VIII, da Constituição Federal, refletiam um tom de confronto aberto. De lá para cá, o discurso oposicionista mudou, adotando uma abordagem mais cautelosa e menos personalista, focada em críticas técnicas e propostas de melhoria, embora a firmeza nas cobranças permaneça.
Recentemente, a dinâmica política em Eunápolis ganhou um novo tom. Vereadores da oposição evitam ataques pessoais, preferindo termos como “gestor” ou “gestora” ao se referir ao Executivo, mas continuam apontando falhas e propondo melhorias para serviços públicos, como saúde, educação e infraestrutura. Contudo, até mesmo questionamentos aparentemente simples podem gerar reações desproporcionais. Um exemplo ocorreu após a sessão de 24 de abril de 2025, cancelada por falta de quórum, quando o vereador Rogério Astória indagou, por meio de um vídeo, sem citar nomes, o motivo da ausência de 11 colegas, sugerindo que a decisão poderia estar ligada a um processo judicial envolvendo o mandato do prefeito Robério Oliveira. Astória questionou: “Qual o medo? […] Imagino que tenha haver com essa situação aí do processo que está tramitando na justiça.” A fala, que buscava transparência, não apenas incomodou pessoas ligadas ao Executivo, mas também provocou reação de setores da imprensa local, que voltaram suas metralhadoras contra a atuação da oposição no Legislativo, evidenciando o desespero de setores que buscam blindar o “Rei” de questionamentos firmes, mesmo amparado pela imunidade parlamentar.
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Essa reação revela uma contradição no cenário político local: enquanto a Constituição garante aos vereadores o direito de questionar e fiscalizar, alguns setores, incluindo aliados do Executivo e parte da mídia, parecem preferir um Legislativo que apenas endosse o prefeito, evitando debates incômodos. A crítica a Astória, por uma pergunta que não acusou diretamente ninguém, sugere uma tentativa de limitar a atuação dos parlamentares, especialmente quando se trata de temas sensíveis, como o processo judicial contra o prefeito, que, apesar de especulações, não afetou ainda, seu mandato, conforme decisão da Justiça Federal. A nova geração de políticos em Eunápolis, ao buscar um debate mais elevado, enfrenta o desafio de equilibrar a responsabilidade fiscalizatória com pressões para manter a harmonia com o Executivo. A história política da cidade, marcada por embates e alinhamentos, mostra que a verdadeira defesa dos interesses da sociedade exige coragem para questionar, mesmo quando isso atrai a artilharia de quem defende o status quo.
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