Em uma sessão secreta, realizada na última quinta-feira (12), a Câmara de Vereadores de Eunápolis aprovou a concessão do título de cidadão eunapolitano ao governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues. A decisão, tomada sem debate público, levanta questionamentos sobre os critérios utilizados e a real representatividade da honraria concedida.
O ato, formalizado por meio do Edital de Convocação (04/2025) e publicado em 6 de junho, convocou os parlamentares para uma sessão secreta no gabinete da presidência da Casa Legislativa, ignorando princípios básicos de transparência e participação popular. O único item da pauta era o projeto de decreto legislativo que concede o título ao governador Jerônimo Rodrigues Souza.
Conceder um título honorário a qualquer autoridade pública exige, além do respeito à legalidade, um compromisso com critérios objetivos. Tradicionalmente, são levados em conta aspectos como serviços relevantes prestados à cidade, idoneidade moral, reputação ilibada e histórico sem condenações. No entanto, quando se trata da relação entre o governo Jerônimo e o município de Eunápolis, surgem lacunas difíceis de ignorar.
Eunápolis figura hoje entre os municípios com os piores índices da Bahia, sobretudo em educação e segurança pública. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024 colocam a cidade como a 6ª mais violenta da Bahia e a 10ª do Brasil, realidade que evidencia o fracasso das políticas estaduais de segurança.
Diante da ausência de entregas e da constante omissão do governo estadual nas principais demandas do município, a concessão do título levanta outra questão relevante: que méritos justificam essa homenagem?
A polêmica se agrava ainda mais quando se considera a postura pública do governador, que recentemente causou indignação nacional ao afirmar, durante evento oficial no interior da Bahia:
“Bota uma enchedeira e leva tudo pra vala” — disse Jerônimo Rodrigues, em referência a eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro, durante discurso em América Dourada (BA), no início de maio.
A frase gerou ampla repercussão e foi alvo de denúncias ao Supremo Tribunal Federal e de pedido de impeachment na Assembleia Legislativa da Bahia, sob acusação de incitação à violência política. Embora o governador tenha se retratado dias depois, o episódio ainda repercute negativamente e revela uma faceta do mandatário que contrasta com os princípios de civilidade exigidos a quem ocupa cargos públicos de alta relevância.
Diante de uma gestão marcada por omissões, ausência de investimentos estruturais e falas controversas, a honraria concedida ao governador gera mais indignação do que orgulho. A principal pergunta que ecoa entre os cidadãos eunapolitanos é: o que, afinal, Jerônimo Rodrigues fez por Eunápolis para merecer esse título?
Com zero de entregas concretas e serviços prestados, a decisão da maioria dos vereadores — 13 votos favoráveis, segundo apurado — soa como um ato político descolado da realidade vivida pela população. Uma escolha que escancara a distância entre os interesses da Câmara Municipal e as demandas do povo.
Conceder homenagens exige responsabilidade, sobriedade e, acima de tudo, coerência com o interesse público. Ao transformar uma honraria em gesto político vazio, a Câmara de Vereadores de Eunápolis compromete sua credibilidade e fere a dignidade de um título que deveria ser reservado a quem realmente constrói e contribui com a cidade.
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