Durante dois mandatos, o ex-vereador Jota Batista foi a voz que incomodava, o espinho na cadeira da Câmara, o terror das sessões plenárias para o então — e atual — prefeito Robério Oliveira. Denunciava com fervor os supostos desvios, gritava contra a corrupção, apontava o dedo com a segurança de quem se apresentava como fiscal implacável da moralidade pública. Chegou a acusar o gestor de crimes e, vejam só, até ocupou o cargo de vice-prefeito ao lado dele, o que dava um tempero especial às críticas. Afinal, ninguém conhece melhor o porão da casa do que quem já morou nela.
Mas o tempo, esse roteirista irônico da política, adora reviravoltas. Hoje, com Robério novamente no comando do município — mesmo após uma condenação em segunda instância por improbidade administrativa, que lhe rendeu a perda dos direitos políticos — o que se vê é um parlamento municipal adestrado: 17 vereadores, dos quais 13 atuam como fiéis aliados, raramente questionando os rumos da gestão.
E é nesse cenário pálido, quase monótono, que a ausência de Jota Batista se faz sentir. Não o Jota de agora, advogado e aliado do prefeito, mas aquele de outrora, que subia à tribuna com voz firme e dedo em riste. Aquele que se apresentava como fiscal da coisa pública e que não economizava nos adjetivos ao denunciar o que chamava de “roubalheira” e “desvios de dinheiro”.
Que fim levou esse espírito combativo? Terá sido arquivado por conveniência, aposentado por exaustão ou simplesmente silenciado pela lógica dos acordos políticos?
A ironia é quase cinematográfica: o fiscal virou parceiro. O Jota que fazia barulho hoje se contenta com o silêncio. E com isso, Eunápolis perde uma voz que, mesmo polêmica, fazia diferença. Porque num plenário onde reina a calmaria fabricada, até um grito desafinado pode ser sinal de saúde democrática.
Sim, Jota Batista faz falta. Mas não esse que hoje posa ao lado do prefeito que outrora denunciava. Faz falta o fiscal inconformado, vigilante, incômodo. O outro, infelizmente, se transformou apenas em mais um personagem mudo na longa encenação da política eunapolitana — onde no fim das contas, os vilões e os justiceiros sempre acabam dividindo o mesmo palco.
Vídeo: Entrevista da jornalista Alinne Werneck
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